domingo, 4 de janeiro de 2015

Passando o "bastão"

Passar o bastão pode significar muitas coisas, mas principalmente o esforço ou empenho de que algo continue e evolua. Pode vislumbrar o progresso e a conquista. Mas continuar o quê, e evoluir para onde? Na vida recebemos muitos bastões e também passamos adiante. Alguns são visíveis e outros não. Já paramos para refletir sobre seu significado ou importância? Sobre a educação, por exemplo, o que é produtivo e pode ser levado adiante e o que é dispensável, ou seja, podendo ser descartado? 
Crescemos dentro de uma família, de uma sociedade aprendendo sobre "valores": regras de condutas morais e religiosas que a princípio nos dão a ideia de que são boas e verdadeiras. Aprendemos sobre os dogmas que são absolutos e que discordar é errado, imoral e pecador. Absorvemos os exemplos, os hábitos, enfim, as culturas. Somos ensinados a refletir as expressões do meio onde vivemos. E geralmente quando nos tornamos adultos, acreditamos que temos uma personalidade, uma opinião própria ou uma singularidade. Nos espelhamos nos ídolos, amamos nosso time de futebol do coração (que não escolhemos), nossas convicções políticas, ideológicas e religiosas. 
Que tipo de bastão passamos para os nossos filhos quando os educamos? Transmitimos valores fundamentais como a busca do auto conhecimento, ou seja, ensinamos sobre a reflexão e a importância de conhecerem a si mesmos?  Da importância de buscarem o equilíbrio com o mundo, respeitando os limites, as diferenças, o contraditório, através da empatia, do respeito, da solidariedade, do cuidado, da compaixão, resumindo, através do amor como um exercício constante do serviço em benefício do outro? Ensinamos os nossos filhos a serem pacíficos, equilibrados, sóbrios, conscientes para fazerem suas escolhas com equidade, e da importância de se aperfeiçoarem? 
Mas parece que o bastão que transmitimos é o da ignorância, do egoísmo, da intolerância e da violência. Criamos os nossos filhos através do "terror", do engano, do ódio, da ameaça, passando a equivocada ideia de que o "pecado" ou a desobediência se corrige através da violência (como um instrumento "legal" eficiente para correção), e só através dela se encerram os conflitos. Quando agredimos nossos filhos com o objetivo de educá-los, estamos plantando neles a semente da violência, da intolerância e da covardia (aprendem que é normal o maior ou mais forte bater no menor ou mais frágio), ao invés do entendimento com o diálogo. Perpetuamos uma cultura que é primitiva, equivocada e nociva, que é a violência. 
Hoje dispomos de conhecimento suficiente para que essa cultura seja erradicada. 
Não ensinamos os nossos filhos a serem pensadores mas sim repetidores. 
Como diz o educador Paulo Freire: "Quando a educação não é libertadora o objetivo do oprimido é de se tornar repressor.
E quando crescem, enxergam os outros como inimigos, com frieza, sem empatia e simpatia, não dão valor a vida, não se importam com o bem estar do outro. Um exemplo é o bullying na escola, onde a criança ou jovem opressor sente a alegria e o prazer em agredir e humilhar os seus colegas. Sente prazer com a dor e o sofrimento do outro. Acha engraçado quando vê alguém cair, tropeçar ou passar por algum momento de constrangimento. Muitos quando crescem, se tornam adultos inseguros, outros violentos e possessivos, não conseguem ter discernimento e acabam repetindo o mesmo comportamento nocivo para com seus filhos. 
Se quisermos uma sociedade mais saudável precisamos primeiro cuidar da nossa própria saúde interior. Ter coragem para fazer as desconstruções necessárias e estarmos suscetíveis as mudanças. 
Precisamos buscar a verdadeira humanidade que tanto idealizamos, haja vista a maldade sempre teve face humana

Só será possível formar seres humanos melhores quando houver uma revolução nos paradigmas da educação. 

Por Romeu Oliveira 

Um comentário:

  1. Gratidão, Romeu, excelente texto para questionar e repensar valores, na formação de nossos filhos.
    Publiquei hoje http://www.teceramor.com/2016/08/passando-o-bastao.html
    Tenha uma excelente semana, abraços
    Maria Teresa

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