sexta-feira, 8 de abril de 2016

A cultura do "mal" é a nova moda

Esses dias eu assisti uma entrevista de um policial brasileiro que trabalha na Polícia Norte Americana, onde discorria a respeito das diferenças existentes entre trabalhar lá e no Brasil. Durante a entrevista o policial falava da maneira como são tratados no outro País. Do suporte que recebem e da motivação de exercer a profissão com louvor. Do excelente salário, dos benefícios, de isenções de imposto sobre certas aquisições (descontos sobre compra de imóvel ou carro). Falou do respeito e credibilidade que eles possuem da sociedade (eles são vistos como heróis). Falou também que lá o crime é efetivamente perseguido e combatido, onde o código penal realmente funciona, e quando eles prendem o Estado pune com o rigor necessário. Enfim, eles se sentem satisfeitos com o trabalho que realizam, porque acreditam e observam que a justiça realmente funciona (é claro que em todos os lugares e atividades existam suas falhas).
Agora em relação ao Brasil, ele fez alguns apontamentos desfavoráveis, por exemplo, em relação ao péssimo salário e condições de trabalho que são desmotivadores, e para piorar o policial muitas vezes é visto como bandido (isso porque a marginalidade socializou-se e virou cultura), não é valorizado pela sociedade (é claro que são visíveis as deficiências e fragilidades da polícia brasileira, mas o principal culpado é o Estado, com seus governos incompetentes e mal intencionados). Enfatizou como seria importante o apoio da sociedade (seria um fator motivante para a polícia) e o respaldo do Estado proporcionando estrutura como um salário digno, que honre uma atividade fundamental para o bem estar da sociedade, bem como os recursos necessários para o combate ao crime. Mas infelizmente não é o que acontece, e mesmo assim a polícia está aí, boa ou não, combatendo o crime e arriscando sua vida para defender a sociedade. Eu chego à conclusão de que a polícia juntamente com a educação foi propositalmente abandonada pelo Estado. E quem está se beneficiando com isso?
Uma coisa é certa, a criminalidade se fortaleceu se organizou e se estabeleceu de forma econômica, política e cultural, e tudo isto debaixo dos olhos do Estado.
Em outro aspecto, eu fico impressionado como essa cultura do "mal" tem se manifestado e influenciado a sociedade. E isso acontece em diversos aspectos, e está se refletindo nas relações em geral, através da linguagem, da música, das programações de TV, como as novelas e filmes (o bandido virou herói). Mas a mídia tem sido grande parceira nisto, tem promovido certas figuras deprimentes como grandes formadores de opinião e proporcionado riquezas para muitos. A "cultura" da marginalidade, que antes era restrita somente aos grupos marginais e dentro das penitenciárias, espalhou-se, e socializou-se mudando a visão da sociedade. O “mau” que antes estava distante, agora está perto, visível, ousado, invadiu as relações familiares e está incutido na personalidade desta e das próximas gerações. E podemos enxergar isso no comportamento das pessoas. Perderam a noção de limite, estão mais agressivas, indiferentes e não conhecem mais o significado de "respeito". Desta forma eu não vislumbro boas perspectivas para do futuro, mas com certeza cumpro com o meu papel de pai contribuindo para que meus filhos se tornem bons cidadãos. Em outras palavras, as influências não vêm mais dos "bons", mas, infelizmente daqueles que transmitem apologias do "mal". E essas apologias estão refletidas de diversas formas, onde muitos a representam e que talvez nem saibam. E isso acontece porque a política educacional é deficiente, distorcida e desprezada por um Estado que é dirigido por poderes que se beneficiam com esse contexto. 
Em relação à polícia, que foi constituída para nossa defesa, passou a ser vista como inimiga. E aí está a prova de como a visão da sociedade foi influenciada por essa cultura. Obviamente que há bons e maus dentro da polícia, como em qualquer outro ramo de atividade, mas isto é outra discussão.
Isso provocou grandes danos na sociedade. O ser humano está mais frio e insensível. Não respeita mais a vida. A vida ficou “coisificada”. Em outras palavras, a vida passou a ser qualquer coisa, o outro é qualquer coisa, não tem importância. É como dizer: "A vida do outro está em minhas mãos, eu decido se deixo viver ou morrer".
Há muitas coisas para se fazer neste País, muitas transformações são necessárias, e essas transformações precisam começar no núcleo da sociedade, dentro de casa, no "seio" da família, com mudança de conceitos, de valores. As pessoas precisam aprender a terem um “olhar crítico”, a questionarem aquilo que acreditam, que consideram como "valor" (é preciso começar a medir), e permitir aberturas para um novo saber, para um novo olhar, para novas perspectivas, com o objetivo de conduzir seus filhos pelo caminho do "bem", compromissados com a honestidade e com o respeito absoluto pelo outro. (Romeu Oliveira) 

6 comentários:

  1. Que texto excelente, Romeu, reproduz fielmente o que estamos vivendo, perdeu-se o respeito pelos valores e pela vida humana.
    Gratidão pela partilha, excelente final de semana...
    Abraços carinhosos
    Maria Teresa

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    1. Muitíssimo obrigado Maria Teresa... este veículo é excelente porque permite que falemos para o mundo. Uma forma de compartilharmos nossas reflexões e aprendermos uns com os outros... e faço isso com muito carinho e esperança!
      Fico muito honrado com a tua atenção, respeito e carinho... vc é uma querida amiga!
      Grande abraço!

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  2. Agradeço, Romeu, pela gentileza em permitir publicar suas reflexões, cobertas de razão, que nos alertam para o assustador rumo que a família, ... o país, o mundo, está tomando, ao fazer apologia ao mal, infelizmente!
    Hoje, publiquei seu texto http://www.teceramor.com/2016/08/cultura-do-mal.html,
    Deus te abençoe, abraços carinhosos
    Maria Teresa

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    1. Fico eternamente grato Maria Teresa!
      Eu comecei escrever neste blog movido de muita angústia, mas ao mesmo tempo esperançoso... me sentindo sozinho... meio constrangido, achando que estava "viajando na maionese" rs
      Mas agora fico muito motivado para continuar com este trabalho.
      Grande abraço minha querida!!

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  3. Bom dia, Romeu!
    Vim voando lá da Maria Teresa Valente, que linkou seu texto e deixei meu comentário lá.
    Concordo com tudo que escreveu e por ser educadora, reafirmo sempre que o problema está no núcleo da sociedade - a família.
    Infelizmente a família está com as bases trincadas, os pais esquecem de educar e acham que o professor, em tão pouco tempo fará o que eles não fazem. O "estar junto" foi substituído por eletrônicos e muitos nem sabem a origens de seus pais ou nomes dos avós... Infelizmente, muitos professores que estão ocupando as escolas já estão vindo de formações deficientes, implantando nas cabecinhas que tudo "é permitido", alegando que o diferente é o correto, em vez de pregar o amor a todos e igualdade. No final das contas "os caretas" tem que pagar!
    Sinceramente sempre responsabilizei a mídia por degringolar a educação. O jornalismo imparcial foi substituído por "ibope" e as novelinhas brincam com costumes e moral, banalizando tudo...
    Meu avô sempre dizia que os políticos gostam de povo ignorante, por isso nunca investiam em educação. Depois que cresci, concordei plenamente.
    Bom seria se professores, policiais, bombeiros fossem "estrelas" e modelos de respeito.
    Lá fora tem até um programa (acho que vc já viu) que eles pegam os menores e deixam alguns dias na cadeia para eles verem o que é a vida lá... depois, muitos voltam pra casa e mudam completamente sua vida. Aqui... imagina! Causaria traumas, é proibido...
    Enquanto isso, vamos semeando o amor ao próximo e o respeito pelas vidas. Jogamos semente, postamos coisas boas e acreditamos que em algum coração essa semente brotará.

    Parabéns pelo blog e por seus textos.

    Abraços esmagadores e feliz semana.
    Márcia.

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    1. Olá Márcia!
      Muito obrigado pela atenção e carinho
      É dificil viver neste tempo de tamanha ignorância e ao mesmo tempo de tanta informação e conhecimento. É um contraste enorme. Mas o que me deixa muito triste diante de toda essa "cultura da ignorância" é a violência. Ela está crescendo absurdamente. É assustador! Mas nós seguimos em frente, remando contra a maré e descontruindo esses conceitos "falacianos".
      Um grande abraço e conte comigo nesta "batalha"

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